Por João Maurício
Foi presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Rio Maior, entre 24 de junho de 1974 e 23 de agosto de 1976. Esta escolha veio na sequência da votação feita na chamada Assembleia Popular realizada a 1 de maio de 1974.
Já na parte final da sua vida, Alberto Santos Goucha fazia caminhadas com regularidade, na Chainça. Foi, aí, no extinto café local, que com ele tive meia dúzia de semi longas conversas. Achei-o um homem inteligente, doce, de trato fácil, modesto e com oratória fluída e bem construída.
Alberto era comedido nas suas palavras, mas havia, às vezes, uma leve e justa vaidade por ter servido o concelho. Republicano moderado, não se vangloriava de ter sido oposicionista ao chamado Estado Novo. Era, assumidamente, como os situacionistas chamavam “do contra”. Era, também, um bom contador de histórias. Lembro-me das suas referências aos detalhes pitorescos da visita da rainha Isabel II à nossa região, às histórias do seu amigo Joaquim Augusto de Carvalho, presidente da Câmara Municipal de Alcobaça, dos efeitos nefastos da pneumónica em terras riomaiorenses, da história da família Goucha e do tempo em que os sapateiros da Benedita iam a pé vender o produto do seu trabalho às terras vizinhas.
A vida do sr. Alberto Goucha segundo percebi, foi uma estrada cheia de encruzilhadas com espinhos pelo caminho.
Os mais atentos, os que com ele privaram com mais frequência sabem que era um homem generoso e solidário.
Um dia, falou-me da realidade social e económica do concelho antes de Abril. Outros tempos, os da ruralidade, onde em muitos lugares o saneamento básico, o abastecimento de água e estradas alcatroadas eram uma miragem. Senti nele a alegria de ter visto a sua terra dar um pulo em termos económicos e ver a criação de estruturas sociais, nomeadamente a partir da década de oitenta do século passado. Referia-se à renovação das gerações e rematou, textualmente que “os homens desaparecem e as obras ficam”.
Tive o privilégio de ter convivido, embora poucas vezes, com este magnífico conversador. São pessoas que nos marcam e nós não esquecemos.
Alberto Goucha foi homenageado pelo executivo municipal em 6 de Novembro de 1990, presidido pelo Dr. Silvino Sequeira.
Fez-se justiça. Ele ficou muito sensibilizado com esse reconhecimento.
Marcolino Nobre num dos seus livros, tece-lhe os maiores elogios, classificando-o de “nato comunicador” e grande bairrista.
Alberto Goucha dirigiu os destinos da autarquia em tempos conturbados. Uma época agitada sob o ponto de vista ideológico onde, às vezes, havia falta de racionalidade. As suas qualidades conciliadoras contribuíram, e muito, para que tudo fluísse com paradoxal tranquilidade.
A autarquia local editou, há anos, o livro “Presidentes – 1974-2017”, onde é dado o devido destaque a este grande riomaiorense. Falta, contudo, uma obra, tipo biografia, onde figurem os grandes nomes da comunidade local: autarcas, comerciantes, desportistas, médicos, industriais, professores e outros.”
Caldas da Rainha e Alcobaça já percorreram esse caminho.
Alberto dos Santos Goucha, nesse hipotético e futuro livro terá, certamente, o seu espaço de realce.