João Palhinha, médio do Fulham e da Seleção Nacional
Aos 28 anos, João Palhinha é um dos indiscutíveis de Roberto Martínez na Seleção Nacional que se prepara para o Campeonato da Europa de 2024, na Alemanha. Em entrevista exclusiva ao Flashscore, o médio, que cumpriu a segunda época no Fulham, da Premier League, onde se destacou como o jogador com mais cortes do campeonato, lembra a transferência falhada para o Bayern Munique, em janeiro, aborda o futuro ao serviço do emblema liderado por Marco Silva e, claro, do campeonato nacional conquistado pelo “seu” Sporting, antes de virar as agulhas para o Euro-2024.
– Olá João, obrigado por aceitares o convite do Flashscore
– Obrigado eu pelo convite, é um prazer.
– Foste o jogador na Premier League que mais cortes (tackles) fez, foste premiado por isso. Como classificas a época que terminou?
– Em termos coletivos, foi uma época bastante boa, à semelhança da primeira. Em termos pessoais também foi bom, senti que estive bem e evoluí, isso é o mais importante. No global olho para trás como uma época bastante positiva. O objetivo do Fulham era a manutenção, não nos podemos esquecer disso, foi conseguido rapidamente e em certa fase da época até achamos que podíamos lutar por algo mais. Mas com a competitividade grande da Premier League nunca foi fácil aspirarmos a um lugar perto da Europa, mas tentamos lutar por isso.
– Esta foi a tua segunda época do Fulham, se bem que as pessoas têm uma sensação de que a primeira foi bem melhor depois da subida de divisão. Vocês também pensaram assim, que as coisas podiam ter tomado outro rumo?
– Sim, claro. Toda a gente tem noção da competitividade em Inglaterra e é inevitável não compararmos as duas épocas. Na primeira época fizemos mais pontos, se formos a equiparar nesse ponto, os factos não mentem, quase batíamos o recorde de pontos do Fulham na Premier League, nesse sentido foi melhor época. Mas depois olhamos para os resultados contra equipas grandes e nesta temporada ganhamos ao Arsenal, ao Tottenham, ao Manchester United… portanto, tivemos vários jogos em que demos uma imagem diferente do que na primeira época, pelo menos quanto aos grandes. A época positiva que fizemos advém disso, demos um passo em frente. Houve mudanças na equipa, mas conseguimos manter uma base.
– E para o ano, é para continuar no Fulham?
– Sim, até agora as perspetivas são de continuar. No futebol nunca sabemos o dia de amanhã. Tenho sonhos, objetivos como jogador, desde que comecei a minha carreira sempre tive o sonho de jogar nos grandes palcos do futebol mundial, já tive uma oportunidade, como é conhecido publicamente. Neste momento, ao dia de hoje, as perspetivas são no Fulham, mas vamos ver o que acontece. Tenho imenso respeito pela instituição do Fulham, as pessoas sabem o profissional que sou e é esse exemplo que pretendo passar a muitos miúdos que me acompanham e me têm como referência.
João Palhinha e a transferência falhada para o Bayern Munique Opta by Stats Perform/AFP
– Esse episódio (da transferência falhada) com o Bayern de Munique suponho que o tenha marcado muito. Está totalmente ultrapassado? Com todas as mudanças que houve no Bayern é algo que pode continuar em cima da mesa? Questiono porque há muita gente que diz que o João Palhinha tem de estar num clube que jogue na Champions. É uma porta fechada o Bayern?
– Não sei se é uma porta fechada ou não, isto no futebol é tudo muito incerto. Não posso dizer que seja uma porta fechada ou aberta. Também não me posso meter aqui numa posição dessas. Ao dia de hoje quero focar-me mais no Europeu porque é esse o objetivo que está presente, deixar uma boa imagem no Euro, depois tudo o resto virá por consequência disso. As pessoas já me conhecem, felizmente o facto de estar na Premier League já me faz estar numa montra muito grande, provavelmente na maior delas todas. O Euro também é uma montra que toda a gente acompanha no mundo inteiro, o resto é o que tiver de ser.
– Ainda antes de irmos ao Euro, não posso deixar passar ao lado os portugueses na Premier League. O Manchester City foi campeão, o United desiludiu embora Dalot tenha sido considerado o melhor da equipa e o Bruno Fernandes quem mais cria situações de golo. Ficas feliz por quem ganhou no City e triste pelo que aconteceu com o Dalot e o Bruno, apesar do United ter ganho a Taça?
– Depende… Estando colegas dos dois lados, ficamos com o coração um pouco partido. Desejamos sempre que o melhor ganhe. Em efeitos práticos, foi muito bom para o Bruno e o Dalot conquistarem a Taça por causa da questão da Europa, seria mesmo muito mau um clube com a grandeza do United ficar fora de uma competição europeia, felizmente conseguiu. Portanto, nesse aspeto, talvez estivesse a torcer mais pelo Bruno e o Dalot, até porque o Bernardo, o Rúben e o Matheus foram campeões, por isso a época ficou uma espécie de 50/50, apesar de o United não ter conseguido atingir uma posição europeia pelo campeonato, mas no futebol as pessoas só se lembram da última imagem e isso funciona para o bem e para o mal. O facto de o United ter vencido o City acabou por ser uma surpresa para todos, deu uma grande resposta e mereceu ganhar a Taça.
João Palhinha fala da época do Sporting
– Ainda antes de ir ao Europeu, ficaste feliz por ver o Sporting campeão? Talvez nem tanto por perder a final da Taça de Portugal…
– Sim, a dobradinha era um objetivo de toda a estrutura, aos anos que isso não acontece. Não tenho dúvidas que o plantel – até o próprio Rúben Amorim – disse que não ter conquistado a Taça torna menos especial ter sido campeão nacional. Percebo um pouco o que ele quer dizer. Quando és jogador, poderes somar dois títulos numa época torna muito mais especial do que só um. Mas isso não apaga de todo a grande época que o Sporting fez e mereceu completamente este campeonato. A Taça foi um jogo competitivo, em que o FC Porto teve a felicidade de ganhar.
– Alinhas na mesma ideia dos que dizem que a Premier League é uma competição à medida de Rúben Amorim?
– Sim, o Rúben tem essa capacidade, já o disse anteriormente. Não sei se vai acontecer, mas tem capacidade e potencial para isso, já foi um grande tema de final de época e provavelmente continuará a ser nos próximos tempos. Isso há-de ser uma escolha dele.
– Quem está por fora tem a sensação que, cada vez mais, qualquer clube da Premier League está mais atento ao futebol português. Por vezes até há contratações algo inesperadas. Estando no campeonato mais competitivo do mundo, também sentes que os portugueses estão sempre no radar?
– Eu creio que sim, o facto de termos muitos jogadores a virem para cá e terem sucesso deve-se a essa atenção crescente dos clubes à nossa Liga. A verdade é que hoje em dia, não só o futebol inglês, como outros mercados, estão cada vez mais atentos ao nosso futebol e isso também é muito bom para o jogador português.
– Virando agora para o Europeu, quando ouviste Roberto Martínez dizer o teu nome qual foi a sensação? Foi como se fosse a primeira vez?
– Claro, foi muito especial para mim. É uma competição em que já tive a felicidade de estar presente e é algo único, a sensação de representar o país. Quero ir com tudo para conquistar coisas bonitas pelo nosso país.
João Palhinha e os objetivos de Portugal no Euro-2024 Opta by Stats Perform/Profimedia
– Scolari pediu bandeiras às janelas, Fernando Santos disse que levava tabaco para um mês… e Roberto Martínez? Ou colocou algum travão na euforia?
– Não, nunca o fez, nunca pediu isso. Ele sabe que esse objetivo constrói-se degrau a degrau, vamos com muita calma, pensando na fase de grupos em primeiro lugar, com três jogos de preparação para nos ajudar. Depois disso, é darmos tudo o que temos e fazer por merecer chegar longe na competição.
– Mas, naturalmente, que todo o grupo sabe o valor que tem e o mundo do futebol coloca Portugal entre os favoritos. Isso é uma pressão para vocês ou já estão habituados?
– Quando se representa o nosso país há a pressão de estar sempre presente. Todos nós temos noção do que podemos conquistar e atingir, temos que nos focar em nós e não tanto nos fatores externos que tentam interferir no grupo. Enquanto grupo temos que dar as mãos uns aos outros e focar-nos no nosso trabalho, tudo o resto há que meter para trás das costas e ir com o pensamento de representar o país.
– Na Alemanha há uma enorme comunidade portuguesa, estão preparados para o banho de apoio que vão ter lá? Não só nos jogos, como em Marienfeld (local do estágio)?
– Claro que sim, sabemos que vamos ter o apoio de muitos portugueses e contamos com isso. É sempre muito especial quando podemos contar com eles, espero nos façam sentir em casa durante os jogos.
– Há dois nomes incontornáveis na equipa: Pepe e Cristiano Ronaldo. Até que ponto são importantes para o grupo?
– São muito importantes pela experiência que têm e pelo legado que deixaram na Seleção, só por isso já merecem estar presentes na convocatória. São exemplos vivos e que continuam a dar sempre o melhor nos clubes. Para a minha geração e para as mais novas é sempre um orgulho poder partilhar este espaço com eles.
– E também são eles que vão ao fundo buscar a motivação para a equipa dar o clique para dar a volta?
– Sem dúvida, eles sabem bem. Quando falamos em experiência é muito sobre isso, é sempre bom ter um misto de juventude e experiência porque dá uma competitividade diferente no grupo. Aliar isso num espaço como a seleção é extremamente bom e temos a felicidade de contar com esse misto.
– Muito obrigado por este bocado de conversa com o Flashscore e muito sucesso neste Campeonato da Europa.
– Muito obrigado, igualmente e tudo de bom.
Os números de João Palhinha