Revisitar as principais ruas e lugares que inspiraram a reunião de Óbidos de 1 de dezembro de 1973, foi o objetivo da rota literária “O Movimento dos Capitães e o 25 de Abril”, um percurso guiado por histórias e narrativas que marcaram aquela data, e que teve lugar no passado dia 10 de maio.
A ação, dinamizada para assinalar o Dia da Liberdade de Imprensa no contexto das comemorações dos 50 anos de Abril, começou na Praça da Criatividade junto à “Pomba”, uma escultura de José Aurélio.
“Faz todo o sentido estarmos aqui, e a celebrar, em Óbidos, a história da construção da libertação do país, da liberdade de ação e de pensamento”, referiu, na ocasião, Daniel Pinto, diretor da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste (EHTO).
Ilda Cruz, do Departamento de Estratégia, Operação e Promoção do Turismo Centro de Portugal, explicou que a “Pomba” começou por ter em si uma mensagem de Paz, ficando depois intimamente ligada à Liberdade, o culminar do movimento que estava a criar-se em Óbidos, com os Capitães de Abril.
Da Praça da Criatividade, o percurso literário, pontuado por momentos de leitura do livro “O Movimento dos Capitães e o 25 de Abril” (da autoria de Avelino Rodrigues, Cesário Borga e Mário Cardoso, com prefácio de Boaventura Sousa Santos), seguiu para o atelier de tipografia e artes gráficas Artes e Letras, que conserva, em gavetas, as letras do alfabeto, e também máquinas para impressão. “Os tipógrafos e a tipografia foram importantes para a resistência”, apontou Luís Gomes, o proprietário do espaço.
Avelino Rodrigues, jornalista, recordou como se imprimiam os jornais, à época, lembrando os “sensores” que autorizavam, ou não, a impressão de determinada edição. “A repressão, o que fazia, era ‘empastelar’ (misturar) as letras do alfabeto que estavam nas gavetas”. Porque voltar a ordená-las “demorava uns dias”, o que acabava por comprometer a saída dos jornais.
Da tipografia, a rota, guiada por Ilda Cruz e por Paulo Capinha, avançou para a Igreja S. João Batista, outro dos pontos de referência para os capitães de Abril. Dali, seguiu-se para a Praça de S. Pedro, junto à Olaria de São Pedro (na altura uma padaria, e que viria a ser um posto de informação não oficial).
Da Praça de S. Pedro, a rota literária fez uma paragem na Pousada Vila Óbidos (no passado, uma zona de estacionamento), prosseguindo, depois, rumo ao bar IBN ERRIK REX, muito frequentado por militares (de Caldas da Rainha, Mafra ou Santarém), e pelas elites de então. “Era o único bar da região”, recordou o proprietário Bruno Nobre. “Era aqui que se divertiam, mas também onde se juntavam para reuniões à porta fechada”.
A Livraria do Mercado, outrora o quartel dos bombeiros, foi outra das paragens desta rota, que terminou na Casa da Música, local onde, a 01 de dezembro de 1973, a pretexto de um magusto, ocorreu a reunião conspirativa do Movimento dos Capitães.
Manuel Freire assinalou o momento com a canção “O Pedro Soldado”, com letra da autoria de Manuel Alegre.
A rota literária foi uma iniciativa da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste e da Gazeta das Caldas. Contou com o apoio e envolvimento do Turismo do Centro e dos municípios de Óbidos e Caldas da Rainha.