Por João Maurício
Ruy Belo é um poeta difícil, dificílimo. É mesmo um dos poetas mais complicados da Literatura Portuguesa. Às vezes, é quase inacessível. A certa altura, a sua vida entrou em rutura com a igreja, afastando-se da mesma.
Passou a questionar a sua fé e na parte final da sua vida transformou-se em agnóstico.
Ruy belo nunca se declarou marxista, mas a verdade é que alguns dos seus poemas aproximam-se dessa filosofia – política. São seus os seguintes versos «Nós os vencidos do catolicismo/Nós que perdemos na luta da fé».
O poeta que chegou a ser membro da Opus Dei, passou a questionar a colagem de setores da igreja ao chamado Estado Novo. É aqui que Ruy Belo se torna difícil. A verdade é que mesmo depois de ter abandonado a igreja católica, a temática religiosa continua presente na sua obra. Temas como: o pecado, a morte, a salvação, o destino e Deus continuam sempre presentes nos seus versos. O poeta deixou de acreditar num Deus que diz ser abstrato, mas reconhece a pessoa de Cristo. Na sua obra, há uma espécie de desespero, solidão e a presença de um Deus imóvel. Os poemas são, muitas vezes, uma mistura de cristianismo e paganismo, uma mescla difícil de explicar.
Fazemos nossas as palavras do cardeal Tolentino Mendonça que disse que a poesia de Ruy Belo desce “ao mais fundo das coisas”. Estamos perante um poeta inquieto que procura o infinito, mas apenas encontra a dúvida e a reflexão. Ruy Belo tem sido alvo de muita curiosidade nos meios universitários de Itália, Brasil e Espanha. Entre nós, já teve mais divulgação. Diremos que foi o Departamento de Literatura da Faculdade de Letras de Lisboa que o colocou no “top” da poesia portuguesa. Na minha opinião, a sua congénere conimbricense passou ao lado da divulgação do grande poeta. Chamaram – lhe um génio e senhor de uma poesia sublime. Maior elogio não podia ter tido
Notas finais – destacamos que se devem a Arnaldo Saraiva, professor emérito da Faculdade de Letras do Porto, alguns dos melhores estudos sobre o poeta riomaiorense. Embora Ruy Belo não seja muito conhecido do público em geral, nos meios académicos é considerado um dos maiores vultos da poesia portuguesa do século XX.