Santarém recebeu, entre os dias 1 e 5 de julho, a visita de 12 estudantes universitários vindos do Canadá. A deslocação aconteceu no âmbito de uma parceria estabelecida há dez anos entre o Município de Santarém e a Simon Fraser University. A receção e o enquadramento local coube ao Serviço de Arqueologia da Câmara Municipal, nomeadamente a Helena Santos, arqueóloga que coordenou a equipa municipal de arqueologia, em colaboração com Hugo Cardoso, docente responsável por trazer os estudantes a Portugal.
Natural de Santarém, Hugo Cardoso encontra-se desde 2013 a lecionar no Canadá, onde é Professor Catedrático de Antropologia Biológica e Forense. Atualmente, é ainda Diretor do Departamento de Arqueologia da mesma Simon Fraser University, instituição de ensino localizada perto da cidade de Vancouver.
Foi também no Canadá que, em novembro de 2006, Hugo Cardoso foi premiado por ter apresentado aquela que foi considerada a melhor tese de doutoramento na aérea das ciências sociais. Foi mesmo a primeira vez que um investigador nacional na aérea da antropologia e biologia ganhou este prémio.Com este estudo, Hugo Cardoso testou e comprovou que a dentição é o indicador mais comum e fiável como forma de identificar a idade de um esqueleto, visto que é a parte menos afetada pelas condições ambientais, contrariamente ao que acontece com esqueletos humanos.
O prémio foi atribuído pela Canadian Association of Graduate Studies and University Microfilms International, entidade que representa cerca de 50 instituições de ensino superior onde se podem obter cursos de mestrado e de doutoramento.
Em Portugal, Hugo Cardoso passou antes pelo Museu Nacional de História Natural, em Lisboa, foi professor e especialista em antropologia forense na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, enquanto que nos EUA trabalhou na unidade de antropologia forense do Office of the Chief Medical Examiner, em Nova Iorque, e pela Forensic Science Academy do Laboratório de Identificação Central das Forças Armadas Americanas.
Ossos escalabitanos
Os alunos que viajaram até Santarém frequentam cursos cujas licenciaturas estão ligadas às áreas da arqueologia, biologia, psicologia e criminologia lecionados na universidade canadiana. Ao longo dos dias em que permaneceram nas instalações do Município, os jovens estudantes efetuaram a limpeza e o tratamento de restos osteológicos humanos exumados em 2005, após a realização de uma intervenção arqueológica junto da Igreja de Marvila, no centro histórico de Santarém.
De recordar que o Serviço de Arqueologia de Santarém recebe, desde 2014, alunos de licenciatura em arqueologia da Simon Fraser University, uma instituição de ensino superior que se tem dedicado a auxiliar a equipa técnica da Câmara Municipal no tratamento e conservação de material osteológico humano proveniente de vários sítios que foram alvo de intervenção arqueológica na cidade de Santarém.
Os alunos de mestrado e de doutoramento, para além destes trabalhos mais práticos, têm igualmente desenvolvido outros projetos de investigação com os materiais disponibilizados. Segundo a arqueóloga Helena Santos, “esta oportunidade tem beneficiado os alunos de uma perspetiva educativa e profissional, como forma de praticar os conhecimentos de osteologia humana e arqueologia, mas também a nível pessoal, pela exposição a diferentes formas de trabalho e imersão na cultura local”, assegura.
A visita a Portugal surge integrada num projeto mais vasto, desenvolvido pelo departamento de Bioarcheology and Forensic Anthropology Labs Field School, da referida Simon Fraser University. Inclui ainda trabalhos similares no Instituto Universitário de Ciências da Saúde – CESPU -Cooperativa de Ensino Superior, Politécnico e Universitário, em Gandra, Paredes, e na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve, em Faro.