

Por João Maurício
Dedico esta breve e singela crónica à professora Irene Mateus, com uma vida profissional feita em Rio Maior. Foi o primeiro bebé a ser batizado na Igreja Nova da Benedita, poucos dias após a sua inauguração, a 15 de agosto de 1955.
Nesse longínquo dia, eu tinha feito, há poucos dias, 6 anos e recordo-me apenas de uma verdadeira “artilharia” de foguetes que subiam e rebentavam no ar, quase a cada segundo. As colchas coloridas ornamentavam as janelas e varandas. Ondulavam ao ritmo de um vento suave, mas quente a que o povo chamava de “suão”. Afinal, estávamos em pleno verão. Veio muita gente dos concelhos vizinhos para assistir à festa.
Na Avenida da Igreja havia tapetes de flores por onde passavam o Cardeal Cerejeira, o Governador Civil de Leiria, o presidente da Câmara de Alcobaça e muitos outros convidados. Os sinos do novo templo tocavam sem parar, simbolizando toda a alegria vivida por toda aquela gente. O grande obreiro daquele sonho foi o Padre Inácio Antunes que nesse dia estava mais que contente: feliz. Natural do concelho de Torres Novas, era daquelas pessoas que raramente encontramos na vida. Os que trabalharam com ele, nomeadamente os membros da Junta de Freguesia, nunca lhe pouparam elogios, por ser um homem leal, trabalhador, visionário, frontal, inteligente, muito vivo, talvez demasiado impulsivo. Era, sem dúvida, um verdadeiro líder. Quando abandonou a paróquia, em 1958, a Benedita nunca mais foi a mesma. O sacerdote ribatejano alterou as mentalidades e abriu novos caminhos – os do futuro.
O Padre Falcão, mais tarde bispo de Beja, coordenou um estudo no patriarcado de Lisboa, sobre a prática religiosa em várias paróquias. Dizia, com graça, que na Benedita havia 101 por cento de católicos. Eram, na realidade, 99%. Esse facto fez unir a sociedade local em torno de um objetivo comum – construir um novo templo de oração. Quase todos estavam ao lado do Padre Inácio. O tempo passou, as pessoas foram desaparecendo, mas a memória do Padre Inácio continua em alta, mas os mais novos, como é lógico, não conhecem os detalhes da sua personalidade.
Não me canso de repetir as virtudes daquele sacerdote. Infelizmente, vivemos hoje, num tempo que, por razões múltiplas, encontrar um homem daqueles é como procurar “uma agulha num palheiro”.
A nova Igreja da Benedita era, quando foi construída, o verdadeiro coração da terra, uma casa de todos. A sua beleza simples e austera era símbolo da modernidade que vinha a caminho. Passados setenta anos, recordamos o povo anónimo que com tantos sacrifícios ajudou a edificar aquela casa de Deus. Lembro o ousado arquiteto Licínio Cruz e o grande empreiteiro Júlio Sismeiro que teve, infelizmente, um fim trágico. Simples no seu recheio, a Igreja da Benedita tem uma longa história.

Recordo as visitas de tantos bispos, de inúmeros casamentos, batizados, funerais e tantas outras cerimónias solenes, que não consigo retratar.
A delicadeza daquele templo transmite-nos a história de quatro gerações de católicos.