Por João Maurício
A temática das Invasões Francesas em Rio Maior, tem sido objeto de imensos estudos nos meios académicos. Por mero acaso, chegou-me às mãos a obra “Turres Veteras V” (Torres Vedras em latim), trata-se de uma publicação feita pela Câmara Municipal de Torres Vedras (setor da Cultura e do Instituto de Estudos Regionais e do Municipalismo Alexandre Herculano. A obra foi editada no ano 2000, mas não é por isso que perde a atualidade.
Aí, são abordados vários temas da história regional, militar e sobre as invasões francesas. Encontrámos um texto com o título “Junot em Rio Maior – um episódio da Guerra Peninsular”, da autoria de Marta Carvalho dos Santos, investigadora de estudos históricos.
Estamos perante um excelente trabalho bem documentado. A autora, para a sua elaboração, consultou vasta bibliografia, quer portuguesa quer francesa.
Destaco os Estudos de História Local (Rio Maior), de Fernando Duarte, Laureano Santos e de Pereira de Sousa.
Marta dos Santos refere os estudos de conceituados historiadores nacionais, como é o caso de Fortunato de Almeida, Damião Peres, José Matoso, João Medina, José Hermano Saraiva, Veríssimo Serrão, José Manuel Tengarrinha, António Pedro Vicente e Joel Serrão.
A autora diz-nos textualmente que “Junot sofreu um grave acidente em Rio Maior”, facto que contribuiu “de forma decisiva para o seu suicídio dois anos depois”. Afirma a mesma que, em Rio Maior, “existia um importante depósito de vinho e trigo, ocupado pela brigada portuguesa sob o comando de Campbell. Fica em aberto o estudo dos impactos demográficos das invasões francesas na atual área do concelho de Rio Maior. Ou seja, não é possível saber quantos civis morreram nestes conturbados tempos, por falta de dados estatísticos, mas há uma certeza de que os traumatismos cranianos sofridos pelo general, em Rio Maior, causaram a alienação mental no militar.
Quanto à teoria defendida por alguns historiadores, incluindo Marta dos Santos, de que Junot foi socorrido no cemitério local, não posso concordar. O general francês foi levado para uma capela que existia, no século XIX, na zona do Gato Preto e aí tratado por médicos das tropas de Napoleão.
Diz-nos Marta dos Santos que “Quando iniciámos o estudo deste episódio da vida de Junot, não calculávamos as dificuldades com que nos deparámos para o situar cronologicamente. Com efeito, e sabendo à partida que existia uma série de versões acerca do ocorrido em Rio Maior, foi-nos difícil precisar com exatidão o dia e o mês do acidente”. Acrescenta, ainda, que o “Mapa demonstrativo da força dos corpos de 1ª linha do exército português que combateram em cada uma das acções que tiveram lugar na Guerra Peninsular” (declaração dos mortos, feridos, prisioneiros e extraviados nas referidas) apresenta alguns erros de datação. No texto, é assinalado que os combates de Rio Maior tiveram lugar nos dias 11 e 19 de fevereiro.
A carta de Wellington dirigida a D. Miguel Pereira de Forjaz (Ministro da Guerra), diz que a data correta é 19 de Janeiro de 1811.
Convém recordar que as memórias escritas por Laura Junot (esposa do general) publicadas mais tarde e fonte de consulta de alguns historiadores, não primam pela exatidão histórica.
Para concluirmos, diremos que toda a problemática das invasões francesas na área de Rio Maior é mais complexa do que aquilo que vamos lendo por aí.