

Por João Maurício
«Todas as memórias, todas as marcas que as gerações passadas nos deixaram, transportam sempre em si, riquezas imensas que precisamos agarrar, valorizar, divulgar, porque os desgastes do tempo e a incúria dos homens já muitas vezes fizeram desaparecer», Iria Gonçalves, professora catedrática de História Medieval, jubilada pela Universidade Nova de Lisboa, in Prefácio da obra “Salir d’ Outrora”.
É um lugar comum, mas não deixa de ser verdade que o estudo do passado é vital para preparar o futuro. A História Nacional, Regional ou Local ajuda-nos a perceber o esforço dos que por cá passaram antes de nós e do que fizeram em prol da comunidade. É uma responsabilidade de todos, transmitir às atuais gerações o que foi feito de positivo antes delas.
No caso concreto de Rio Maior, há um déficit na publicação de obras sobre a sua História. É certo que, talvez timidamente, nos últimos anos se tenha vindo a tentar alterar a situação. Ao acaso, recordo as publicações sobre: a Feira das Cebolas, as Lendas, os Presidentes da Câmara, a obra académica sobre a Ninfa de Rio Maior, e mais uma outra que agora me escapa. Mas é pouco!
Li tudo o que me chegou às mãos sobre os programas eleitorais das várias forças políticas que concorreram à autarquia de Rio Maior. Creio que não serei injusto afirmar que nesta área encontrei um vazio enorme com uma honrosa exceção. De facto, a coligação “Juntos pelo Futuro”, na parte final do seu programa eleitoral, mais concretamente no capítulo “Desporto” diz textualmente «História do Desporto em Rio Maior – Publicar um livro que evoque a história do desporto no Concelho». Tiro o “meu chapéu” a este desejo que só engrandece quem se lembrou de fazer tal referência. Vamos esperar que isso se torne realidade! São muitas as autarquias, nomeadamente na nossa região que têm vindo a publicar (ou a patrocinar) a feitura de obras nos vários setores sociais, desportivos ou económicos, que são verdadeiros estudos dos seus municípios.
Os livros mostram-nos memórias, pedaços de tempos idos. Trazem-nos detalhes de vidas passadas, deixam registado para sempre o esforço, a ousadia, a generosidade. Vamos esquecendo gente anónima e humilde, cujo registo se perdeu.
Refiro Torres Novas que há uns anos fez sair um pequeno, mas interessante livro sobre a História do Futebol naquele município. Ora, se Rio Maior é a terra do desporto, faz todo o sentido que siga pelo mesmo caminho. E, já agora que estou a escrever sobre este tema, o das monografias e sem querer entrar em polémicas com ninguém (que não é esse o meu estilo), seria bom que a Escola Secundária de Rio Maior, onde trabalhei 16 anos, publicasse um livro que registasse a sua história. É que só se faz um século de vida uma vez!
Com alguns interregnos, Rio Maior apostou quase sempre em edições de jornais. Aí, é possível encontrar anúncios comerciais do concelho bem curiosos que alimentaram o chamado “poço de memórias”. Lá encontramos dados desta terra de há setenta, oitenta e mais anos que os mais novos ignoram. Nesses velhos jornais que agora vão sendo digitalizados, há muitas memórias da antiga Vila que dava os primeiros passos rumo ao progresso.
Tenho caminhado por esse mundo num percurso silencioso e, aí, encontrei detalhes da vida do concelho que o tempo vai apagando. Curiosamente, é fora do município que se encontra muito desse precioso espólio. Cito o jornal “Gazeta das Caldas” que chegou a ser aqui impresso e onde João Lopes publicava as novidades concelhias. O mesmo acontece com o conceituado “Correio do Ribatejo”.
Este tema levar-nos-ia muito longe. É justo fazer uma referência a Fernando Duarte e à sua obra “Rio Maior – estudo da Vila e o seu concelho”, obra editada em 1951. Alguns dizem que se trata de um grande livro, mas de facto não é. O próprio autor refere no Prefácio, com humildade, que é apenas “uma obra modesta e imperfeita”. O seu grande mérito é que estamos perante uma fonte que nos fornece pistas para encontrarmos a bibliografia mais importante sobre a história de Rio Maior. Fernando Duarte diz-nos, e bem, que “escrever sobre história de um concelho como o nosso, é difícil, por dois motivos. Porque se verifica uma quase completa ausência de elementos de estudo; e porque, os poucos elementos de estudo que existem, andam dispersos nas mãos de particulares e de colectividades inacessíveis”.
Reconhecemos que Fernando Duarte foi uma pessoa bem informada e com base intelectual. A verdade é que o seu livro foi escrito há mais de setenta anos. O estudo da História nas suas várias vertentes é feito, agora, de modo bem diferente do que acontecia em 1951.
Fernando Duarte diz-nos uma grande verdade: a História de Rio Maior está dispersa por muitos livros, bibliotecas e arquivos: desde a Torre do Tombo à Biblioteca Nacional, Arquivos Religiosos e vários ministérios. Compilar e selecionar tão grande volume de informação requer um longo trabalho de pesquisa. Percorrer esse percurso, o de escrever sobre Rio Maior, segundo Fernando Duarte, tem de ser “uma obra coletiva, dada a dispersão e, até mesmo, a variedade de assuntos a tratar”.
Maior verdade não existe!















