Por João Maurício
A Câmara Municipal de Tomar acaba de editar a obra “Jácome Ratton – 140 anos de vivências da Escola e da Cidade”, da autoria de Leonel Vicente. Jácome Ratton, (1736-1820), o patrono da Escola Secundária, antiga Escola Industrial e Comercial da cidade do Nabão, foi um político, industrial e comerciante luso-francês. Fundou a Companhia de Fiação Tomarense.
Estamos perante um longo trabalho de investigação de setecentas páginas. Leonel Vicente tem vindo a publicar vários trabalhos sobre o concelho de Tomar, a saber: Grupo Mendes Godinho, Sporting de Tomar, Fábrica de Papel Matrena e União de Tomar.
Destaco o capítulo dedicado à Reforma Veiga Simão, no ano letivo de 1973-74. O capítulo 6 fala da Segunda Guerra Mundial e das suas consequências na vida escolar. O autor faz uma longa viagem pela história da escola. Ao acaso, cito o ano letivo de 1885-1886, quando a disciplina de Desenho Industrial era de grande importância.
Tomar, há cinquenta anos, era um Ribatejo diferente na maneira de ser das pessoas. A cidade nabantina tinha uma personalidade própria e caraterísticas dos médios núcleos urbanos do interior. Havia uma pequena burguesia que procurava sobressair e que fazia poiso nos cafés locais da moda – Café Paraíso e a Pastelaria Estrelas de Tomar, mais conhecida por “Estrelinhas”. O União de Tomar militava na primeira divisão e aos domingos, de quinze em quinze dias, o estádio fervilhava de vida.
Lentamente, a crise na indústria foi-se instalando e o apogeu da época marcelista desfez-se como um castelo de cartas. Hoje, a cidade vive muito do turismo.
O Sporting de Tomar, em 1975, já era importante na área do hóquei em patins. Nesse ano, não houve Festa dos Tabuleiros. Tomar era ainda sede da Região Militar e o comandante era o Brigadeiro Francisco José Morais que eu tinha conhecido como coronel, dois anos antes.
O livro dedica um capítulo ao tempo em que o PREC se instalou nas escolas.
O ano de 1975 foi um tempo agitado, mas vivo, cheio de experiências, caminhos tortuosos, vividos intensamente, onde todos fomos aprendendo a viver em democracia. A vida na vida escolar era uma espécie de laboratório, mas um tempo único, cheio de emoções.
Surge na minha memória, a primeira eleição democrática da Comissão Diretiva ganha pela lista da Maria José Leite. Esse momento vem referido livro citado.
De súbito, apareceu espontaneamente, um movimento inorgânico exterior aos sindicatos que acabavam de nascer. Perante um afunilamento ideológico, surge uma organização que se reunia periodicamente no Entroncamento e onde se juntavam representantes dos docentes de todos distritos, de Bragança ao Algarve. Esse movimento começou em Tomar. Queríamos louvar o 25 de Abril, mas corrigir erros e excessos. Quando em 1976, fui colocado na Benedita, as escolas já viviam na normalidade.
As reuniões do Entroncamento eram bem vivas, ricas e livres.
Realço, aqui, a figura do saudoso Major Victor Alves que chegou ao Ministério da Educação, em setembro de 1975 e que pacificou o setor do ensino.
Neste processo, havia quem trouxesse novidades e julgamentos apressados. Mas recordo, também, aqueles que, mesmo sendo ingénuos, eram solidários e generosos. Existiram muitos os que, como o poeta, disseram “só sei que não vou por aí”.
Na sombra, serenamente, quase sem darmos por isso, havia os que nos davam belas lições, construindo a escola democrática, sem correntes.
Outros eram, apenas, “bem falantes”.
Neste momento, recordei-me de alguns colegas, Mário Montes, Maria José Leite, Brito Sá e Fernando Laborinho, entre outros. Desses, apenas sei que este último já desapareceu. Dos outros, os colegas da minha idade, onde andarão agora?
As escolas em 1975 eram palcos vistos à luz de espelhos muito próprios. Uma harmonia … imperfeita! Mas a verdade é que esse ano é um tempo passado, sem regresso. Ficaram as boas memórias.
Vivemos o virar da página e encetou-se um novo capítulo na História da Educação em Portugal. Tempo polémico, com dicotomias. Meio século depois, são horas de fazer um julgamento sereno, independente, sério e justo dessa época.