

Por João Maurício
“Com muita frequência escrevo, não por saber já o que penso sobre um determinado assunto, mas para descobrir”, Neil Gaman, escritor britânico. Nasceu em 1960.
A História Nacional, Regional ou Local é uma espécie de “poço sem fundo”. Estamos sempre a descobrir dados novos. O projeto da Linha Férrea Setil-Rio Maior-Peniche, agitou muito a sociedade caldense nos finais da monarquia. As elites locais fizeram pressão sobre o rei D. Carlos para a obra arrancar.
Portugal está cheio de projetos que levaram muitas décadas para serem concretizadas. Veja-se o caso da Barragem do Alqueva que já estava projetada nos planos de fomento de Salazar. Exemplo disso é, também, o caso do Porto da Nazaré, ideia que já fervilhava desde os finais do século XIX. Talvez, um dia, a ligação ferroviária em causa venha a ser uma realidade. Isso só irá acontecer se houver pressão política, junto do governo central. A linha começava no Setil, passava por Rio Maior e terminava em Peniche.
João Bonifácio Serra foi um grande historiador, já falecido. Em 2003, publicou a obra “21 anos pela História – Caldas da Rainha”, onde fomos encontrar um texto que faz referência a esse sonho. Aí, é dito que em 1956, o Dr. António Sampaio Madahil publicou uma monografia sobre o concelho caldense, falando da necessidade dessa linha transversal que fizesse a ligação da Linha do Oeste com a Linha do Norte. Essa linha férrea ligaria Setil a Peniche, passando por Rio Maior. O troço iria beneficiar muito o turismo das várias praias, nomeadamente a Foz do Arelho, Peniche, S. Martinho do Porto e Nazaré, e as termas das Caldas e de Monte Real. E, ainda todo o turismo do Oeste.
Madahil afirma que os estudos “estão parados há muitos anos”. De facto, há mais de meio século que nada tinha avançado. Em 1905, fora publicado o Relatório da Comissão encarregada de analisar o plano ferroviário entre o Mondego e o Tejo. Dele faz parte um inquérito administrativo feito junto dos governos civis, câmaras municipais, associações agrícolas e industriais, associação dos Engenheiros Civis.
A proposta inicial da Comissão refere que a dita linha serviria os concelhos do Cartaxo, Santarém, Rio Maior, Óbidos e Peniche que são “muito importantes sob o ponto de vista agrícola”. A 17 de agosto de 1904, o Governador Civil de Leiria, José dos Santos Pereira Jardim propõe que o traçado da linha passe pelas Caldas. Também a Câmara caldense apresenta o mesmo pedido ao rei D. Carlos. Na altura, o governo era presidido por Hintze Ribeiro.
Um grupo de ilustres caldenses ligados à Câmara Municipal local, à Associação Comunal e ao jornal Gazeta das Caldas tinha entre as suas prioridades a referida ligação ferroviária. Entre eles, estava o arquiteto Paulino Montês, natural de Peniche. Não se sabe a razão pela qual tal infraestrutura nunca tenha avançado. Uma das hipóteses colocadas por alguns estudiosos, terá sido o facto de terem existido algumas “tricas” entre fações políticas da primeira república.
Custódio Maldonado Freitas, enquanto deputado da primeira república lutou muito pela construção da dita linha férrea. Ainda o conheci, porque tinha uma farmácia na Benedita, era um velho republicano. Figura polémica que chegou a ter muito peso político na região oeste. Nasceu na Atalaia da Barquinha, em 1886 e faleceu em 1964. Foi Presidente da Câmara Municipal das Caldas Da Rainha.
A foto que aqui dele deixo foi retirada, com a devida vénia, da obra “Ecos do século XX – Distrito de Leiria”. Custódio está à esquerda de João Soares Lopes (pai de Mário Soares) que foi figura ligada à nossa região, nos anos 30 dos finais do século passado. Nasceu no concelho de Leiria e foi capelão no quartel de Alcobaça e Governador Civil de Santarém.
Maldonado Freitas foi um defensor dos interesses da nossa região junto do poder central. Fica aqui esta modesta homenagem.
