
Por João Maurício
III
O Pão
Iria Gonçalves foi uma conceituada professora catedrática na Universidade Nova de Lisboa, especialista no estudo da História Medieval Portuguesa. Fará, dentro de dias, 92 anos e continua a ser uma referência nesta área.
A sua obra “O Património do Mosteiro de Alcobaça nos séculos XIV e XV”, é um retrato profundo que consulto, sempre que tenho algumas dúvidas. Aí, são dadas inúmeras informações sobre Rio Maior.
Os frades ao longo dos tempos aumentaram o seu património de várias formas: doações, legados, heranças, compras e por outas vias.
As doações representaram mais de oitenta por cento deste processo. Na zona de Rio Maior, aconteceram doações entre 1300 e 1324 e entre 1350 e 1399.
Reproduzimos parte de um mapa dos muitos que ilustram o livro referido de Iria Gonçalves. Aí, é fácil perceber a existência de inúmeras searas que os frades tinham nesta região. Neste caso, não é feita uma referência específica aos cereais aqui cultivados. Contudo, sabemos que os frades se dedicavam, essencialmente, à produção de trigo, milho, cevada e centeio, por este país fora, e que os dois primeiros produtos por nós referidos, representavam cerca de setenta e cinco por cento do total dos cereais produzidos pelo Mosteiro alcobacense.
Existe outro livro da mesma autora “À Mesa nas Terras de Alcobaça em Finais da Idade Média”, que completa estas informações.
Rio Maior era, pois, «terra de pão» que cobria o déficit cerealífero das terras do litoral.
O pão na Idade Média era um alimento de excelência. A cultura do trigo em terras riomaiorenses estava entregue aos camponeses locais que, por isso, pagavam ao mosteiro um “terrádigo”* em géneros, proporcional à colheita.
* Terrádigo era um imposto que se pagava pela exploração agrícola de um terreno, propriedade de uma ordem religiosa, neste caso, o Mosteiro de Alcobaça.
Por falta de documentação não nos é possível aprofundar este tema do pão.
(continua)
















