A ANP|WWF, o Município de Santarém e a SOS Animal deram ontem, 21 de setembro, início à remoção de uma barreira fluvial obsoleta- o açude da ribeira de Perofilho, em Santarém. A demolição desta barreira fluvial tem o apoio do programa European Open Rivers Programme, uma organização que atribui fundos dedicados à remoção de barreiras obsoletas em rios europeus, com vista ao seu restauro.
A remoção do açude de Perofilho vai permitir restaurar a conectividade fluvial da Ribeira de Perofilho e melhorar as condições de habitat de espécies nativas e ameaçadas, como a boga-portuguesa (Iberochondrostoma lusitanicum) – uma espécie endémica de Portugal e em perigo, a enguia Europeia (Anguilla anguilla) – uma espécie migratória cujo ciclo de vida é impactado pela construção de barreiras fluviais, a rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi) e a lontra (Lutra lutra), cuja ocorrência foi documentada na proximidade deste açude.
“Esta é a segunda vez que a ANP|WWF ganha um financiamento do European Rivers Programme para a remoção de uma barreira fluvial obsoleta – no caso deste açude, já não cumpre a função para a qual foi construído e, aos dias de hoje, está apenas a obstruir o curso natural da ribeira e a prejudicar a biodiversidade local. Esta remoção vem no seguimento da estratégia para a Biodiversidade 2030 e da nova Lei do Restauro da Natureza que obriga os estados membros da UE a libertar pelo menos 25.000 km de rios em toda a Europa, cabendo a Portugal libertar pelo menos 600 km de rios”, afirma Maria João Costa, Coordenadora de Água na ANP|WWF.
“O Município de Santarém tem como prioridade prosseguir uma Gestão Sustentável dos seus Recursos Hídricos, alicerçado na capacitação e nas parcerias inovadoras que possibilitam projetos de reabilitação fluvial e restauro da natureza com o envolvimento dos cidadãos. Recentemente criámos o Pelouro do Ambiente e dos Recursos Hídricos, com o propósito de acrescentar à Proteção Ambiental a relevância do setor dos recursos hídricos, para a sustentabilidade do Território e Qualidade de vida das populações, através da reabilitação e restauro fluvial no meio urbano e rural. O trabalho desenvolvido pela autarquia, através da Divisão de Ambiente e Sustentabilidade, marca a sua estratégia com o projeto Reabilitar Troço-a Troço e alcançou o nível de execução da obra ambiental do Alviela 7.7, em 7 km do rio Alviela e 700 m do rio Centeio, com recurso a Técnicas de Engenharia Natural, remoção de espécies exóticas e invasoras, e implementação de um trilho pedonal e ciclável, acreditando numa trajetória de Restauro dos Ecossistemas Ribeirinhos, na qual a componente de remoção de barreiras artificiais obsoletas é fundamental para a conectividade fluvial no nosso Território”, declara Nuno Russo, Vereador da Câmara Municipal de Santarém.
“A SOS Animal considera de extrema importância a existência de espaços que funcionem como santuários de vida, onde a natureza pode retomar o seu equilíbrio natural. A remoção desta barreira fluvial obsoleta em Santarém é um passo fundamental para restaurar a biodiversidade e garantir que espécies em risco, como a boga-portuguesa e a lontra, possam prosperar novamente no seu habitat natural. Estes esforços de conservação reforçam o nosso compromisso em proteger e preservar a vida selvagem e os ecossistemas essenciais ao bem-estar de todas as espécies”, diz Sandra Duarte Cardoso, Presidente da Direção da SOS Animal Portugal, DVM, MSc & PhD St.
O processo de remoção do açude, construído em betão, incluiu a monitorização das populações de peixes da ribeira, e incluirá ainda a remoção manual das canas, uma espécie invasora presente na área envolvente do açude.
Após a remoção, terá início o restauro ecológico da área intervencionada, com a plantação de árvores e arbustos em ambas as margens e, durante os meses seguintes, será efetuada a monitorização das populações dos peixes, para verificar a evolução do seu estado antes e depois da remoção.