Por João Maurício
“Este é apenas um pequeno lugar do mundo/
um pequeno lugar onde à noite cintilam luzes/
são os barcos que deitam as redes junto à costa/
ou talvez os pescadores de robalos com as suas lanternas/
suas pontas de cigarros e as suas amostras fluorescentes/
talvez o Farol de Peniche com o seu código de sinais/
ou a estrela cadente que deixa um rasto/
e nada mais.
Um pequeno lugar onde Camilo Pessanha volta sempre/
talvez pelo sol e as esplanadas frias/
ou apenas os restos sobre a praia/
pedrinhas, conchas, pedacinhos d’osso/
e nada mais/.
Um pequeno lugar onde se pode ouvir música/
o vento, o mar, as conjunções astrais/
um pequeno lugar do mundo onde à noite se sabe/
que tudo é como as luzes que cintilam num breve instante/
e nada mais.”
Manuel Alegre, poema “Foz do Arelho/ Primeiro Poema do Pescador”, escrito na Foz do Arelho a 8 de Agosto de 1996 e publicado no livro “Senhora das Tempestades”, editado em 1998.
Acaba de ser publicado o último livro de Manuel Alegre – “Memórias Minhas”. Segundo o antigo ministro Alberto Martins, “é um deslumbrante caminhar por dias e lugares que se cruzam com tempos únicos da nossa história contemporânea”.
No fundo, dizemos nós, que este livro é a vida de um homem que nasceu em Águeda, no distante ano de 1936. Uma obra longa cheia de detalhes e curiosidades. Uma vida cheia que passa por Coimbra, pela guerra de Angola e pelo exílio na Argélia e a sua passagem pela política.
Na página 272, diz-nos “Em Agosto (1978), eu estava com a família, na Foz do Arelho. A pescar robalos, como sempre”.
Tinha sido a praia de juventude de Mário Soares. Manuel Alegre descreve as conversas que teve na Foz do Arelho com Mário Soares.
Recorda Sophia de Mello Breyner com quem falava de pessoas, sítios, nomeadamente da Foz do Arelho.
Pela leitura de “Memórias Minhas”, e de entrevistas aos jornais, dá para perceber que Alegre tem um fascínio pela Foz.
Terminamos com um pequeno excerto da entrevista concedida à revista “Vidas – CM”, edição de 24 de dezembro de 2011 – “o que pesco com mais frequência são robalos. O meu principal troféu é um robalo de seis quilos que apanhei na Foz do Arelho”.
