

Por João Maurício
As velhas casas da Serra dos Candeeiros estavam inseridas na estrutura paisagística marcada pelo calcário, a água escasseava. Rodeadas por solos pobres, apareciam oliveiras, carvalhos e chaparreiros, carrasqueiros, tojos, giestas e moitas. Nessas zonas serranas, as propriedades eram minúsculas, existiam pequeníssimas áreas de grão, feijão, trigo, e aveia para animais.
Uma das principais fontes de rendimento era o azeite. Aqui e ali, cultivavam-se alguns pés de vinha. Existia, ainda, a pecuária. O porco assegurava a dieta de carne, as ovelhas forneciam a lã e queijo e as cabras, o leite. Daí, saíam homens e mulheres para a ceifa do trigo na região de Lisboa, para as vindimas no Bombarral e no Cartaxo e para a apanha da azeitona no Ribatejo.
As casas serranas da nossa região tinham uma estrutura simples. Eram poucas as de primeiro andar, propriedade dos mais abastados. Nesses casos, a habitação era no andar de cima. Era no rés-do-chão que se guardavam as salgadeiras, as talhas de azeite e as alfaias agrícolas.
Estas casas eram de pedra calcária que levava barro na construção das mesmas. Pintadas de branco com cal, tinham, no exterior, uma barra de azul forte ou amarela. A cobertura era de telha de canudo. As chaminés eram toscas. As paredes tinham pedras sobrepostas unidas por barro a que se juntava palha. A porta com postigo era, às vezes, de um azul forte. A soleira da porta era pouso das “comadres” para falarem da sua vida e da vida dos outros ou, simplesmente, para apanharem sol.
A “casa de fora” tinha soalho de pinho com rodapé. O teto era forrado a madeira, também de pinho. Aí, encontravam-se uma ou duas arcas grandes, onde guardavam o trigo, o milho, feijão, grão-de-bico e chícharo. Noutra divisão, guardava-se a roupa domingueira, as mantas perfumadas com alfazema. Era nessa sala que existiam os retratos de familiares cruz, as estampas dos santos, nomeadamente, Santo António e Santa Bárbara. Podia ver-se a cantareira com cântaro e tampa.
Era neste espaço que se faziam as festas dos batizados. Nas paredes, havia a estampa da Última Ceia ou do Anjo da Guarda. Era, aí, que se velavam os mortos.
Num tempo mais recuado, o defunto era deitado nas mantas, trajado com o fato domingueiro. O corpo era velado pelos familiares e amigos, aos quais se oferecia, na adega ou na cozinha, uma bucha, composta por um naco de conduto (toucinho, chouriço, carapaus secos ou bacalhau). Durante três dias, os familiares não acendiam o lume. Eram os vizinhos que alimentavam a família enlutada.
Esta realidade acontece nas zonas serranas do concelho de Porto de Mós, Alcobaça e Rio Maior.
Os quartos eram pequenos, cerca de 4 metros quadrados. O quarto de casal tinha uma janela estreita, uma cama de ferro forjado oferecido pelos pais da noiva. Os colchões eram de camisas de milho desfiadas. Aí, havia uma cadeira para pôr a roupa e um lavatório de ferro forjado com uma bacia e jarro de esmalte e balde de folha de flandres, e um bacio ou penico. Com o nascimento de um filho recorria-se, por vezes, ao berço de madeira. Havia, ainda, um outro quarto para as filhas. Os filhos rapazes dormiam no sótão ou no palheiro.
Na cozinha, via-se uma lareira coberta por tijolo burro. No interior da chaminé, podiam ver-se fileiras de varas de enchidos e farinheiras. Não faltava a trempe de ferro circular onde se colocava o caldeirão dos porcos para se cozinharem as cascas dos legumes, as couves, as batatas miúdas e as beterrabas. Na parede, havia uma grade formada por ripas de madeira verticais e horizontais para se pendurarem os tachos pequenos, as cafeteiras e os testos das panelas.
No lavatório de madeira encaixava-se um alguidar de barro ou uma bacia de alumínio. A mesa tinha duas gavetas onde se guardavam os garfos de ferro, as colheres de alumínio e o pão.
A ceia era a única refeição passada em casa, já que as outras eram feitas no campo.















