

Por Maria Coelho
Ao ver o sofrimento do meu país com a situação dos fogos, não consigo ficar calada. Sei que as minhas palavras talvez não mudem muito, mas é preciso tentar.
Em primeiro lugar, quero dizer um enorme OBRIGADA do tamanho do mundo, que ainda assim será sempre pequeno, a todos os bombeiros de Portugal e a todas as pessoas que, nos momentos de aflição, colaboraram com comida, bebidas e apoio. Todos vocês são heróis e merecem o respeito de toda a nação!
Na minha opinião, tudo isto é um negócio. Alguém sai sempre a ganhar com esta tragédia. Não consigo compreender como há pessoas que vivem felizes vendo tanta desgraça à sua volta.
Agora questiono: quem comanda realmente o meu país? Sinto que Portugal foi abandonado há muitos anos. Temos um governo que escolhemos votando ou não, essa é a verdade, mas será que ainda não chegou a hora de mudar?
E o Presidente da República, para que serve? Apenas para representar o país lá fora? Se é só isso, então qualquer um de nós podia fazê-lo. Um país não se governa com abraços e beijos, e quando mais precisamos, ele vai de férias. Depois, tem ainda a ousadia de aparecer nos funerais dos bombeiros. Para quê? Se fosse alguém da minha família, nunca permitiria a sua presença, porque o primeiro responsável é o Estado e as leis fracas que cria.
Será que os governantes têm os seus terrenos e matas limpos? Onde está o respeito por aqueles que arriscam a vida todos os dias? Há avionetas e helicópteros avariados, mas gasta-se 35 mil euros por hora para pedir ajuda a outros países, quando havia um ano inteiro para se preparar. Será que algum governante já se colocou no lugar de um bombeiro ou da sua família? Eles são os verdadeiros
soldados da paz, dão a vida por nós, e em troca não recebem nada. Todos os anos perdemos homens e mulheres que deixam famílias destruídas, crianças sem pai ou mãe, jovens sem os abraços que nunca mais voltarão.
E as minhas perguntas continuam:
· Qual será a sentença para os criminosos que ateiam fogos?
· Que justiça terão os bombeiros mortos, os populares que defenderam os seus bens, os animais queimados, as culturas que eram sustento de tantas famílias? Antigamente, quem matava cumpria 25 anos de prisão. Hoje, como vai ser?
· Onde esteve o nosso Exército nestes dias? Onde estão os aviões militares? Porque ficam tantos presos sem fazer nada, quando poderiam estar a limpar matas? Porque é que quem passa anos desempregado continua a receber ajuda sem dar nada em troca?
Claro, todos os criminosos agora são declarados “malucos”, e assim nem cumprem pena. Se sofrem de doenças, então criem prisões com condições adequadas e tratamentos. Não era melhor gastar dinheiro nisto do que em obras gigantescas, como as que foram feitas para a visita do Papa, que ainda deixaram trabalhadores sem receber?
Será que é desta vez que algo vai ser feito? Duvido. Há anos que é sempre igual. Basta lembrar Pedrógão: passaram anos e ainda há pessoas sem casa e bombeiros feridos a viver com pensões miseráveis. Nunca vi o governo enviar carregamentos de bens essenciais o que vejo é o povo a ajudar o povo. Isso sim mostra que somos uma nação com coração e humildade.
Mas, pergunto: que país é este, onde crianças são maltratadas nas escolas, idosos abandonados nos lares ou mortos pelos próprios familiares, criminosos andam em liberdade e as nossas autoridades são desrespeitadas? Eu não quero saber como é feito noutros países. Quero apenas que o meu Portugal seja salvo enquanto ainda é tempo. Está na hora de limpar o que não presta e começar de novo.
E quando vierem as chuvas? Sem matas para segurar a água, rios e nascentes ficarão destruídos e poluídos pela lama e pelas cinzas. Mais uma vez, quem será chamado? Os nossos bombeiros.
Peço a quem ler este texto que o partilhe. Talvez chegue às mãos de alguém com coragem para o ler publicamente.
Gostaria que existisse hoje alguém com a bravura de Salgueiro Maia. Infelizmente, temo que já não haja ninguém assim. E isso é profundamente triste.
