Por João Maurício
Nota introdutória
“Nem em Portugal se sabe a dimensão de Ruy Belo”, palavras de Manoel Ricardo Lima ao Diário de Notícias, edição de 29/01/2015.
Manoel Lima foi o responsável pela publicação da obra completa de Ruy Belo, no Brasil. Nascido no Nordeste Brasileiro, é professor de literatura portuguesa na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. A sua tese de doutoramento foi inspirada, em parte, na obra do poeta português.
Entre os meus papéis – que são muitos – fui encontrar a revista LER, edição de 2013, cuja capa apresenta a fotografia desenhada de Ruy Belo. Na mesma pode ler-se “são versos, cartas e biografia do poeta que nessa altura completaria 80 anos”. A capa é de João Fazenda, desenhador de renome.
Começamos pelo texto do Cardeal José Tolentino Mendonça que, na época, era apenas padre. Tece os maiores elogios ao poeta de Rio Maior. Há muito que sabíamos da predileção do clérigo por Ruy Belo, mas desconhecíamos que a sua tese de licenciatura em Teologia (1989) tinha por título “A Saudade de Deus na obra poética de Ruy Belo”. O Cardeal diz mesmo: “no meu quarto do Seminário dos Olivais, onde então vivia, tinha o retrato de Ruy Belo colado na parede”. A admiração pelo poeta deve-se ao facto de ter pertencido a uma geração do catolicismo português “que reclamava a implantação do regime democrático”. Diz ainda que a “poesia de Ruy Belo passou a andar comigo”. E quando o padre Tolentino foi para Roma estudar, visitou todos os lugares por onde o poeta tinha andado, quando estudou na Cidade Eterna.
Gastão Cruz (1941-2022), crítico literário faz enormes elogios a Ruy Belo. Compara-o a Fernando Pessoa. Maior elogio não podia haver. Coloca no “top” o poeta e o homem. Diz mesmo que Ruy Belo viveu “dentro da poesia”, o que o eleva à categoria de um dos maiores poetas portugueses do século XX.
Eduardo Prado Coelho, professor universitário já desaparecido, diz-nos que conheceu o poeta no início dos anos 60 do século passado, , “nas aulas da Faculdade de Letras de Lisboa. Escreve que Ruy Belo tinha muito de criança grande, maciça, poderosa, e, depois, ingénua, frágil, insegura, infinitamente preocupada com o seu trabalho escolar, terrivelmente alegre, com uma densa teia de inquietação e perplexidades. Um poeta contra a corrente. Um poeta de primeira linha da poesia portuguesa”.
Nota final – após ler estes textos, tiro a conclusão de que sabemos muito pouco sobre Ruy Belo. Sabemos que morreu sozinho a 8 de Agosto de 1978, na sua casa de Monte Abraão (Queluz). Sabemos também que era UM GRANDE POETA.
