
Por João Maurício
A Câmara Municipal de Rio Maior acaba de lançar o livro “Saberes Populares – Lendas e Estórias – Município de Rio Maior”.
Antes de mais, obrigado pela oferta de um exemplar. Este tema interessa-me muito, até porque no ensino superior estudei a chamada “Literatura Popular e Marginal”. Estamos perante uma pequena obra de 36 páginas, mas grande na mensagem popular, que nos transmite: as tradições orais das nossas gentes.
A edição deste livro vem chamar-nos a atenção para um deficit no que diz respeito ao estudo da História Local. Rio Maior sempre foi uma terra de jornais, mas onde se escrevem poucos livros, de teor profundo, sobre a História do Concelho. Não vou referir nomes, porque me iria esquecer de alguns.
Tenho em minha posse a maioria desses textos publicados nos últimos cinquenta anos. As pessoas que escreveram esses pequenos livros /opúsculos, por certo, deram o melhor de si, mas não deixam de ser estudos parcelares. Não temos, que eu saiba, livros sobre a História – que é longa- dos Bombeiros, da Misericórdia, do movimento associativo local, da Paróquia, do Comércio, da Indústria, do Ensino e de outros setores de interesse, ao contrário do que acontece em alguns dos concelhos vizinhos.
Um dia destes, recebi a História de uma “Misericórdia do Oeste”, muito detalhada, com mais de quinhentas páginas. Saudamos a recolha de “Saberes Populares – Lendas e Estórias do Município de Rio Maior”. As ilustrações são excelentes, coloridas, e os textos muito bem elaborados. Este livro leva-nos ao conhecimento do património local que corria o risco de se perder, não fosse o aparecimento desta interessante prosa.
Trata-se de uma pesquisa de Lendas e Estórias que estavam dispersas em jornais, revistas e alguns livros e, também, na memória dos nossos avós. As lendas são histórias que foram transmitidas de geração em geração e onde o imaginário se confunde com a realidade. Já Fernando Pessoa dizia que “O Mito é o Nada que é Tudo”.

Muitas destas lendas do concelho têm um fundo histórico como é o caso de “O Salteador e o Estudante” que tem a ver com a guerra civil entre miguelistas e liberais. Este livro entra, também, na religiosidade popular, bem visível nos textos sobre Santa Maria Madalena, (Alcobertas), Nossa Senhora da Barreira (Ribeira de São João), Nossa Senhora da Angústia (Azambujeira), Santo António da Azinheira e Nossa Senhora da Escusa (São João da Ribeira).
Temos de referir a clássica estória “O Leão de Rio Maior”, a do “Zé da Horta” que nos leva aos tempos do Rei D. José. Aparece, ainda, “A Lenda de Assentiz”, “O Gato Preto” e muitas outras. A lenda dos “Cazais Monizes” remete-nos para factos reais. “O Rapaz que foi comido pelos lobos” tem a ver com o tempo em que esse animal existia na Serra dos Candeeiros. O lobo está extinto neste local há mais de um século, como nos diz o escritor turquelense José Diogo Ribeiro.
Parabéns a todos os que ajudaram – e foram muitos – a construir este projeto.
Um louvor à Câmara Municipal!
E como os últimos são primeiros, reservo este momento para saudar todas as pessoas que deixaram os seus testemunhos orais.
Vamos esperar que este seja mais um passo rumo ao aparecimento de “novos olhares” sobre este concelho, para que a memória não se perca.
Vivemos o tempo do imediatismo, do audiovisual, onde o efémero abraça o esquecimento. A verdade é que, ontem como hoje, há uma máxima que nunca morre, nem morrerá – “Os homens passam, os livros ficam”!
