Anúncio de 1901
Por João Maurício
A Praia da Nazaré é o título de um pequeno livro de J. Poças Júnior, publicado em 1901. Uma preciosidade que guardo religiosamente. O texto, muito singelo, fala-nos da história daquela praia e tem muitas notas como, por exemplo, “os melhoramentos introduzidos nos últimos três anos e de indicações úteis ao banhista.”
O livro é um hino à ruralidade daqueles tempos, ainda na época da monarquia. Na altura, a praia pertencia ao município da Pederneira. O concelho da Nazaré foi criado, apenas, em 1912. Nesse tempo, a terra era muito fechada e só havia algum movimento nos meses de Verão.
Este livrinho, que é uma relíquia, dedica longo espaço às Festas que aconteciam anualmente no Sítio da Nazaré desde a Idade Média.
Sempre se comemorou o milagre de Nossa Senhora da Nazaré que, a 16 de setembro de 1182, salvou D. Fuas Roupinho da morte. A religiosidade nazarena começou aí. Nas Festas de 1901, foi uma multidão que se juntou no recinto, no Sítio. Gente vinda de todos os lados. Muitos vinham em romarias organizadas, os chamados “Círios”. Estiveram presentes os de Peniche, Mafra (Prata Grande), Porto de Mós, Caldas, Óbidos, entre outros. Esses dias eram as férias dos agricultores da nossa região.
As Festas tiveram, como sempre, uma importante componente religiosa. No dia 7 de setembro houve missa solene e sermão por um distinto orador sagrado. Seguiu-se a procissão acompanhada “a música”. A parte profana contou de duas touradas, música e pirotecnia, um luxo para a época. Nesse longínquo ano, a vida era bem simples, pobre e muita gente andava descalça.
No débil comércio nazareno destacamos António de Carvalho Laranjo que vendia tabaco, sabões, calçado, lavatórios, petróleo, mobílias e candeeiros. Já a casa Serrano & Delgado tinha uma secção de mercearia onde era possível comprar tudo: desde café, a finíssima manteiga, de Paredes de Coura, e até bolachas.
A Nazaré que eu conheci, já lá vão quase setenta anos, era bem diferente, mas tinha muito de castiço: no coração da terra havia os banhos quentes. O porto de abrigo era um sonho e no Verão havia o animado Circo Mariano. O pouco conhecido Grupo Etnográfico Danças e Cantares da Nazaré retrata muito bem esses tempos, através dos trajes e dos objetos que acompanham o grupo. Folclore puro, genuíno. Uma reprodução brilhante dos costumes nazarenos que estão vivos apenas na memória dos mais velhos.
O tempo, com a sua lógica, que às vezes é difícil de entender, foi apagando muitos dos usos e costumes das gentes da praia. A verdade é que a Nazaré continua a ser uma terra de muitos encantos. Alguns guias turísticos chamam-lhe a “joia” da região centro. Brevemente, a terra vai encher-se de banhistas, continuando a ser a praia de muitos ribatejanos.
O Verão está a chegar!
