

Por João Maurício
O Príncipe da Foz – em torno de um mistério é uma obra de Jaime Jorge Umbelino, editada em 2023, mas que só agora conseguimos encontrar. Jorge Umbelino é um professor do Ensino Superior, alentejano de Portalegre, com raízes na Foz do Arelho. Trata-se de um livro de ficção, mas com um fundo de verdade. Pela leitura do “Príncipe da Foz” ficámos a conhecer pessoas, vivências, factos de outros tempos daquela região..
Aí encontrámos muitas referências ao Rei D. Carlos que vinha muitas vezes àquela bela praia oestina caçar patos. Aquela zona do litoral foi em tempos recuados uma área de forte emigração para a chamada América. “Chegado o Outono, quando tivermos as colheitas acabadas, vamos emigrar para os Estados Unidos”.
A obra refere-se a um grande benemérito, “O Sr Grandela, apesar das suas ideias políticas, acabou por ser uma bênção para a terra. Acho que nos descobriu, lá por 97, e logo no ano a seguir, mandou construir o Palacete dele. Quem diria que, muitos anos depois, viria a ser uma colónia da FNAT?”. Hoje, tem o nome de INATEL.
Muito interessante é o capítulo 54 sobre “Festas e tradições na Foz do Arelho antiga”. Entre os dados históricos faz-se uma referência à luz elétrica que aí chegou, em 1950 e à rede de esgotos que só passou a existir a partir dos anos setenta do século passado. Já a rede de águas só ficou concluída, em 1970.
“O Príncipe da Foz” tem um enredo bem vincado. O que mais me interessou neste livro, não foi a história em si, onde o imaginário está muito presente. Foram os dados históricos sobre a terra, as suas vivências, a ruralidade que lá existiu até há meio século. A Foz do Arelho sempre foi uma estância balnear de gente ribatejana e, até alentejana, mas que viveu durante décadas num certo marasmo. As infraestruturas, tardiamente concretizadas, mostram-nos esse abandono.
Vila desde 2009, a Foz foi elevada à categoria de freguesia em 1919 com lugares que, até aí, pertenciam à freguesia da Serra do Bouro.
Existem várias figuras ligada à terra: João Soares que aí fundou uma colónia de férias do Colégio Moderno e o visconde de Almeida Araújo.
Este livro é, também, em certa medida, uma homenagem a Francisco de Almeida Grandela. Por isso, vem a propósito, referir alguns dados da biografia deste homem. Nascido em Aveiras de Cima, em 1853, filho de um médico rural, começou a sua vida como marçano em Lisboa. Já era um homem rico e notável comerciante, quando foi pela primeira vez, em 1897, à Foz, onde acabou por construir um palacete, e onde passou muitas temporadas. Nessa terra construiu uma escola primária, em 1904, que “baptizou” com o nome do grande político, Bernardino Machado. Em 1912, criou a Casa do Povo. Francisco de Almeida Grandela faleceu em 1934, mas ainda hoje é um símbolo da Foz do Arelho.
O Príncipe da Foz é um retrato do passado às vezes mais longínquo, outras vezes mais próximo.
A base deste livro tem a ver com a facto de João ter emigrado para a América com o pai. Levou muitos sonhos misturados com o seu espírito inquieto. Um deles era, um dia, saber mais sobre a vida do seu avô António, a quem chamavam O Príncipe da Foz. Mas para perceber o título, é preciso ler o livro. É esse o mistério desta obra.
O escritor Manuel Pinheiro Chagas no “Diccionário Popular” de 1881, diz-nos que a aldeia da Foz era uma povoação “pobre e triste” e que os seus “habitantes vivem afastados do mundo”. Basta dizer que nesse tempo, a rede de estradas era muito deficiente. Por exemplo, até há cem anos, os habitantes da foz iam à Nazaré, às festas anuais, a pé ou de burro. Era nas cestas colocadas nos asnos que transportavam os farnéis ou as crianças de tenra idade.
Curiosamente, o grande escritor Raul Brandão, na sua obra “Os Pescadores” escreve: “Agosto – 1922. Para sul da Nazaré pesca-se na Foz do Arelho, onde os homens erguem palácios em frente ao mar, o que nos parece fora de todo o propósito. Diante do mar só uma construção transitória, uma barraca, é que fica bem; e junto à Foz, na lagoa de Óbidos, joia azul encastoada em terras barrentas, onde se apanham magníficas tainhas”.
Antes de “aparecer” o Algarve, há sessenta e tal anos, os riomaiorenses iam fundamentalmente para a Nazaré, sendo menos frequentes as suas deslocações para a Foz do Arelho, mas essa história será para contar noutra altura.















