

Por João Maurício
A Bairrada, a Gândara e o Baixo Mondego constituem um território rico e diversificado que tem um contacto íntimo com a natureza. Cantanhede está inserida num concelho ao qual estou ligado por razões familiares. Visito-o regularmente há mais de meio século. Terra cheia de vinhedos, oliveiras e florestas entre maciços calcários escarpados.
Naquele município, nesta altura, na estrada que nos conduz a Mira, os plátanos pintam-se de cores únicas. Uma aguarela difícil de descrever, numa mistura de várias tonalidades, onde os amarelados torrados, com outros tons, se vão esbatendo com a doçura do sol de outono.
Cantanhede era terra de ourives que vinham até ao litoral Oeste e ao Ribatejo vender o precioso metal. Era vê-los nas feiras e de porta em porta com as suas bicicletas, carregando as suas malas verdes de latão.
Só agora me foi possível visitar o Museu da Pedra. Um hino à natureza dominada pela famosa “pedra de Ançã”. Aí, é possível visualizar as ferramentas utilizadas, antigamente, nas pedreiras. É, também, possível apreciar uma coleção de paleontologia, constituída por diversos fósseis recolhidos nas pedreiras do concelho. Neste museu encontra-se, ainda, uma coleção diversificada que ilustra a utilização da pedra, ao longo dos séculos, usada para fazer imagens religiosas e as famosas cantarias, onde somos postos perante a riqueza das igrejas e capelas desta riquíssima região. O Museu da Pedra merece uma visita!
No mesmo edifício visitámos, também, o Museu de Arte e do Colecionismo que é constituído pelo espólio pessoal do Dr. Cândido Ferreira, natural deste concelho. O antigo médico, já falecido, exerceu a sua profissão em Leiria. Neste espaço museológico estão 800 mil peças que o clínico doou ao município. Um mundo de quadros, numismática, filatelia, arqueologia, artesanato, postais, rótulos publicitários de bebidas, caixas de fósforos, botões, lápis, ferros de engomar, porta-chaves, brinquedos, relógios, moedas, arte sacra, máscaras e muito, muito mais. Outro museu fantástico pela sua diversidade e pluralidade.
Cantanhede tem, ainda, outros museus espalhados pelo concelho, como é o caso do Museu Rural, o Moinho da Fonte e o Museu de Ançã.
Nota final – no Museu da Pedra é possível adquirir vasta bibliografia sobre história, costumes, etnografia e outros temas sobre Cantanhede. É curioso o espaço dedicado ao grande escritor Carlos Oliveira, natural de Febres, uma freguesia do concelho de Cantanhede, onde podemos ver a velhinha máquina de escrever. A sua obra retrata várias profissões, nomeadamente a vida dos antigos trabalhadores das pedreiras e dos fornos da cal, sendo esta uma das atividades da gente desta terra, já extinta.
Aquela gente da Beira Litoral é muito comunicativa. Por isso, mantivemos uma interessante e longa conversa com uma funcionária que conhece bem Rio Maior, nomeadamente as Tasquinhas, onde já esteve, e a Villa Romana e, também, a obra de Ruy Belo.
Como é sabido, Rio Maior e Cantanhede são concelhos geminados pelo que tem havido algum intercâmbio entre os dois que urge aprofundar.
No Museu de Arte é possível ver uma bicicleta de ourives e a sua famosa mala verde.
Hoje, aquele município é muito mais do que uma comunidade rural. Talvez pela proximidade com duas grandes urbes: Coimbra e Aveiro, Cantanhede está a dar um passo importante rumo à cultura e ao futuro.














