Por João Maurício
Parte I
Gosto sempre de escrever sobre Porto de Mós. Estudei lá durante três longínquos anos, trabalhei em Mira de Aire – que pertence a este concelho – e exerci, também, a minha profissão na Batalha, que fica a dois passos. Francisco Furriel, há anos, publicou a obra “Da Pré-História à Actualidade”. São três volumes, mas para já, possuo apenas o primeiro. Espero pelos outros que chegarão, espero eu, em breve.
O antigo Presidente da Câmara Municipal daquele concelho vizinho, José Ferreira, escreveu que Furriel era um autodidata, tendo sido o grande impulsionador da criação do Museu de Porto de Mós. O autor deste livro nasceu em Alqueidão da Serra, em 1925 e faleceu em Leiria, em 2014. Trabalhou uma vida inteira na área da cerâmica, na SECLA, nas Caldas da Rainha. Num mundo, onde a vaidade anda à solta, é de enaltecer o facto de Francisco Furriel não ter escrito a sua biografia neste livro. Nem a sua foto lá aparece. Um gesto de humildade que caraterizou a vida deste homem.
Um seu neto, que é médico, disse-me há tempos que o seu avô era mesmo assim. Estamos perante um interessante e rigoroso estudo sobre vários aspetos da tradição, usos e costumes, a par da recolha de elementos Arqueológicos, Paleontológicos e Geológicos do concelho de Porto de Mós e, até, dos concelhos vizinhos. Da página 293 transcrevemos o seguinte- “O Dr. Prudêncio Rosa, dedicadíssimo e competente veterinário, que nasceu na Azinheira, Rio Maior, no dia 18 de Setembro de 1908, e faleceu no dia 9 de Outubro de 1985, deixou em Porto de Mós, um enorme património de grandes interesses comerciais”.
Porto de Mós tem uma forte tradição mineira, tal como Rio Maior. Por isso, Francisco Furriel refere detalhes da Empresa Mineira do Lena e do carvão extraído das Minas das Alcanadas e da Bezerra.
Na página 274, o autor fala-nos do “Barbeiro da Corredoura, de seu nome Manuel Coelho”. Mais adiante, diz que “não o conheceu nessa altura em que quase não se conheciam médicos nas aldeias, não existiam medicamentos injectáveis nem comprimidos e os poucos remédios usados eram preparados artesanalmente nas farmácias. Um homem que, pelo simples tato dos dedos, conseguia fazer milagres a quem sofresse da coluna”.
Muita gente do concelho de Rio Maior recorria ao Manuel Coelho pare tratar das suas maleitas, digo eu, porque já me contaram. O Dr. Manuel Perpétua, diretor do colégio local, era um adepto fervoroso da ciência. Mas era, também, um apreciador dos dotes curativos do Manuel Coelho. Ouvi-o dizer isso várias vezes, já lá vão quase sessenta anos.
(Continua)