

Por João Maurício
Na edição de 14 de agosto último, do conceituado Jornal de Leiria, na página 16, aparece um interessante texto com o título “Violência em Leiria: o Verão quente de 1975”. O seu autor é Ricardo Charters d’Azevedo. Nasceu em 1943. Foi funcionário da Comissão Europeia e responsável pela criação e desenvolvimento do Ensino Superior Politécnico em Portugal. Docente do Instituto Superior Técnico e da Academia Militar e investigador na área da História do Distrito de Leiria. É autor de várias obras, nomeadamente “A morte do Barão de Porto de Mós”, e “A Estrada de Rio Maior a Leiria em 1791”.
Transcrevemos uma parte do texto que se refere a Rio Maior: “No dia seguinte, terça-feira, 26 de Agosto, os ânimos exaltaram-se em Rio Maior. Após o som de uma sirene, milhares de pessoas concentraram-se na Praça da República, em frente aos Paços do Concelho, munidas de varapaus. A multidão esperava uma caravana de militantes comunistas vindas do Couço (Coruche), que se dirigia a Leiria para manifestar solidariedade com os camaradas atacados.
Quando os primeiros automóveis chegaram, os ocupantes foram arrastados para fora das viaturas. «Logo começaram a surgir armas, caçadeiras, munições e engenhos incendiários», relatavam testemunhas. Vários veículos foram destruídos com as rodas para o ar. Os militantes foram agredidos fisicamente e, para sua proteção, a GNR conduziu-os ao posto local. Dois deles, em fuga, acabaram detidos por mulheres armadas com varapaus no Pé da Serra, a cerca de dois quilómetros da vila.
Estes acontecimentos marcaram profundamente a memória coletiva de Leiria e das localidades vizinhas. Cinquenta anos volvidos, continuam a ser testemunho vivo das tensões ideológicas e sociais que marcaram o período revolucionário em Portugal que esperamos que não se venham a repetir».
Nota final – um elogio ao autor do texto que na sua prosa mostra grande independência na maneira como aborda o assunto. A História não é linear. Estranho, ou talvez não, é que as novas gerações desconheçam o que se passou na sua terra e na região, há meio século. O grande pecado pertence aos programas de História que são demasiado generalistas. Deveríamos seguir o exemplo de Espanha, onde os docentes
têm autonomia para, durante um número limitado de aulas, abordarem, as temáticas da História Local e Regional contribuindo, assim, para que a memória não se perca.
A História é uma busca constante para compreendermos o passado, uma forma de resistência contra o esquecimento de um tempo que não se consegue apagar. A História ajuda-nos a compreender as complexidades da sociedade e permite-nos aprender com as lições e os erros do passado. Muito mais do que fazer juízos de valor sobre o que sucedeu, o mais importante é entendermos as razões sociais, económicas ou políticas que levaram a história a ir por aqui e não por ali.
Por tudo isso, o PREC deve continuar a ser estudado nas suas várias vertentes.














