Por João Maurício
A vida correu vertiginosa. Fernando Fleming de Oliveira faleceu, recentemente, aos 79 anos. Advogado de profissão, fez a tropa na Guiné e fixou-se em Alcobaça. Era descendente de ingleses que rumaram ao Porto, no século XIX. Fleming era casado com Ana Magalhães, minha colega de trabalho no longínquo ano de 1976, na Escola Preparatória da Benedita.
Divergi do que escreveu sobre o PREC, no concelho de Alcobaça, por não ter ouvido os dois lados da barricada.
Durante muitos anos fomos colegas de escrita nos jornais O Alcoa, Região de Cister e nos Anais Leirienses. Convidou-me duas vezes para uma conversa, mas isso, por razões várias, nunca chegou a acontecer.
A vida, às vezes, tem paradoxos – acabei por não o conhecer pessoalmente.
Fleming de Oliveira deixou inúmeros livros sobre a história da região oeste. Tinha uma enorme capacidade de pesquisa. Começou a preparar, há um ano, um livro sobre o 25 de Abril, na nossa zona.
A doença traiu-o e, por isso, o livro não chegou a sair. No início deste ano, contactou-me para escrever um capítulo desse projeto. Recusei, porque a minha prosa iria ser polémica e abrir feridas que estão quase fechadas. Já não tenho idade nem paciência para entrar por esses caminhos. Recebi, em fevereiro, uma elegante missiva, onde o advogado dizia compreender a minha atitude.
Não tendo nenhum livro específico sobre Rio Maior, no entanto, refere-se a este concelho inúmeras vezes, sempre de modo elogioso.
Trabalhou na Magistratura nos Açores. Foi deputado à Assembleia da República, presidente da Assembleia Municipal, e vice-presidente da Câmara Municipal de Alcobaça. Foi, ainda, fundador do P.S.D. de Leiria. Noutros tempos, foi visita regular no Tribunal de Rio Maior, graças à sua profissão.
Foi sepultado em Alpedriz. O homem partiu. Ficou a sua escrita, polémica, mas sempre viva.
Estranhei que, há poucos meses, tivesse parado de publicar, já que escrevia muito. Aqui, há uns dias, Acácio Ribeiro, de Turquel, meu colega do mundo dos jornais, comunicou-me que, infelizmente, o fim do Dr. Fleming estava próximo. Por isso, já estava à espera deste desenlace.
Era dos poucos, entre os quais me incluo, que escrevia na imprensa oestina sobre a história da nossa região.
Ficou, assim, mais um lugar vazio. Como possuo muitos dos seus trabalhos, estes vão ser sempre fontes das minhas consultas. Maior reconhecimento não pode haver! Com humildade, agradeço-lhe o facto de ter transcrito parte de alguns dos meus textos, nos seus livros.
Bonito! Para quem tinha uma visão diferente da minha, no mundo que nos cerca, é de louvar esta atenção. Obrigado, Dr. Fleming!