
Por Dário Marcelino – Ex-Presidente do Moto Clube de Rio Maior
Estive ligado ao associativismo na vertente dos clubes de motociclistas quase três décadas, marcam-me tempos em que fui a reuniões da Federação, ao Montijo, relativo a concentrações e, a Coimbra, derivado a provas de Todo o Terreno, bem como uma reunião que fui convidado a participar por causa de um calendário de clássicas (50cc) realizado no antigo café-restaurante Minhoto, acho ser esse o nome, hoje Restaurante Borges em Rio Maior.
Há três décadas haviam 270 clubes federados, num calendário “organizado” de forma a não haver superposições ou atropelos, existiam as grandes concentrações, Faro, Bragança, Gois, Lobos da Neve, prémio Sagres, gasolina a outros preços faziam que muitos fins de semana somássemos centenas de quilómetros de lés em viés.
As concentrações da altura, eram suportadas grande parte pelos clubes, sócios, amigos e patrocinadores, em recintos públicos ou privados, umas com mais condições, outras com menos, todas quase dependiam de bom tempo para o seu sucesso, reinava a amizade, nunca vi nesses tempos brigas ou discussões. As concentrações pautavam-se por um local de espetáculo e campismo, durante os dias agendados, degustava-mos a boa gastronomia local, visitávamos os monumentos, desfrutava-mos da noite e de todo bom ambiente envolvente.
Concertos, striptease, jogos tradicionais, corridas dos lentos, passeios noturnos com desfiles pelas ruas das cidades, e quem conseguisse acordar ao domingo de manhã, havia um passeio turístico pela zona com visitas gastronómicas mais ou menos elaboradas.
Os anos foram passando, os clubes triplicaram, só a zona de lisboa deve ter mais dos 270 federados nessa altura, de grupos criaram-se associações, na altura obrigatório na lista, pedreiro, eletricista, carpinteiro etc, para realizar trabalhos numa sonhada sede.
De grupos do café da cidade ou aldeia, passaram Grupos Motard, Moto Clubes, muitos, depois disso, dividiram-se e os membros associativos criaram mais grupos e, mais e, mais.
Uns mais reservados, outros mais seletivos, foram criando sedes, locais de encontro, as Autarquias foram cedendo espaços em contratos de comodato, as escolas das nossas infâncias ganharam outras vidas, locais mais isolados e ideais para sedes às vezes um pouco barulhentas.
Nos anos 90, andava-se muito de moto, outros tempos, outras ideias, participando em duas ou três concentrações fazia-se mais quilómetros do que muitas motos que conheço hoje. É certo que o custo de vida aumentou, os meninos de há 30 anos hoje são pais, avós. Esses meninos mantiveram a “moda” das motas ativa, só há cerca de uma década atrás se viu entrar juventude em força, renovando esta “moda”.
Os Moto Clubes de há uma década para cá, “ESTAGNARAM”, muitos com dificuldade de pagar as despesas duma sede, abrem exaustivamente e, concentram as atividades aí mesmo na sede, que muitas vezes nem parque tem para estacionar a moto, outros foram ficando dependentes das Autarquias, é ver na festa do ano, da santa, tasquinhas, sopas, eventos solidários, etc, etc.
A moda de andar de mota, virou moda de vestir o colete, cheio de bordados e encher o carro de família, ou amigos e visitar a atividade do vizinho, em esperança que ele venha a sua, se a atividade meter chuva, então parece uma concentração de carros.
Quando falo em estagnação, digo que, as concentrações não evoluíram, muitas alteraram, mas a meu ver para pior, paga-se além do convívio, o melhor que se recebe talvez sejam os concertos. Mais modas, pequenos almoços, se houve quem os patenteasse, outros copiaram, é certo que o menu muda de “queijo” para “fiambre”, mas é uma cópia, podemos dizer que uns são daqui outros dacoli e outros dacolá, certo, o país é grande, siga.
Se dantes corríamos distritos para o prémio Sagres, hoje com muita facilidade, fazemos uma concentração, dos daqui, vamos a um pequeno almoço dos dacoli e, a um passeio de motorizadas dacolá isto sem sair do Concelho.
Certo, se antes coisas eram organizadas e regradas, hoje cada um faz o que lhe vai na ideia, certo, estamos num país livre, mas não estaremos a perder a essência do motociclismo? Quando fui Presidente do Moto Clube de Rio Maior, apareciam essas questões de “especialistas” em Todo Terreno”, passeios de “Clássicas”, “Concentrações” etc, dei toda a autoridade e apoio para esses eventos serem realizados, felizmente não saíram da ideia, pois em vário estudos, questionários, o que os sócios queriam era “Moto Turismo” e foi isso que lhes dei, médias de 6000kms por anos em passeios moto turísticos, com adesões de 60/70 participantes.
Pergunto eu se hoje os minhentos clubes, sabem o que os seus minhentos de sócios preferem daquela associação? O que vejo é grupos dentro de grupos e, mais grupos, que vão fugindo aos Moto Clubes, porque não oferecem atividades que proporcionem aos associados, andarem de moto.
A Federação Portuguesa de Motociclismo, hoje cativa 392 clubes, clubes virados para as diversas atividades daquela Federação, esta entidade “perdeu a mão” dos Moto Clubes, mas como entidade máxima devem saber isso.
Os moto clubes criaram estatuto social, tem todas as condições para realizar bons eventos, no entanto se esta estagnação não mudar, estamos muito mal, continuaremos a ter muitos clubes, pouca qualidade.
















