
Por João Maurício
O Armazém das Artes, a família e o “Movimento Rebate” resolveram homenagear Joaquim Vieira Natividade, em novembro e dezembro passados. Completaram-se 125 anos do seu nascimento. Ainda conheci o engenheiro, que era um alcobacense distinto, um dos maiores estudiosos da agricultura portuguesa.
É triste, mas é verdade. Os mais novos já não sabem quem foi Joaquim Vieira Natividade. Também ninguém os ensinou. Em menos de meio século, deixou de ser figura de referência na sociedade local, regional, nacional e, até, internacional.
Transformou-se num vulto quase desconhecido. Nunca foi político, mas foi um dissidente e, por isso, mal visto em alguns setores do sistema. J. Vieira Natividade foi um enorme estudioso da Pomologia (árvores de fruto) e grande impulsionador da fruticultura nas regiões Oeste e Ribatejo.
Um dos seus mais próximos colaboradores foi o Marquês de Rio Maior. O engenheiro Natividade era, também, um grande especialista, a nível mundial, na área da subericultura (sobreiros).
Essa homenagem teve por tema central a interrogação “Quanto tempo tem a memória?”. O objetivo foi resgatar do esquecimento a figura deste grande homem.
Parece que o estou a ver: sereno, introvertido, discreto e profundo.
A vida dos grandes homens projeta-se para além das suas biografias. Por isso, fica sempre algo por dizer.
É sabido que é importante recuperar o passado para construirmos a nossa identidade enquanto sociedade. Os que foram brilhantes devem ser sempre recordados.
Esquecer as pessoas que tanto deram às suas comunidades e ao País, não é justo nem racional. Sabemos que a relação da humanidade com o tempo é algo complexo. Vive-se, muitas vezes, do passageiro, do efémero e, consequentemente, do pouco profundo.
A toponímia é a prova de que o esquecimento é maior do que se possa pensar. Por exemplo, num município do litoral oeste, nasceu uma grande figura da igreja portuguesa. Estranho é o facto de nessa sede de concelho não existir nenhuma referência a essa personalidade eclesiástica. Ao invés, figuras ditas menores, têm o seu nome na respetiva toponímia.
As grandes qualidades de J.V.N. fizeram dele um enorme investigador muito conceituado nos meios académicos, pelo que a sua imagem deve ser projetada para o futuro.
Vivendo toda a sua vida num Portugal tradicionalista, foi um inovador rigoroso e futurista.
Joaquim Natividade levou uma vida silenciosa e singela e nunca procurou a consagração pública. A verdade é que recebeu, ainda em vida, muitas homenagens, nomeadamente dos agricultores ribatejanos. Uma vida cheia de canseiras, sem vaidades e cheia de modéstia.
Ao contrário do que acontece noutros países da Europa, não temos nos programas escolares da disciplina de História, um capítulo dedicado à História local e regional. Por isso, os nomes mais sonantes de cada comunidade vão desaparecendo da memória coletiva, perdendo-se, assim, alguma identidade própria desse espaço humano.
Afinal quanto tempo tem a memória?
O engenheiro Joaquim Vieira Natividade faleceu em 1968.
Nota final – a título de curiosidade, diremos que Manuel Joaquim Natividade, pai do engenheiro Joaquim, teve uma ligação a Rio Maior. Este arqueólogo esteve na Azinheira onde, em tempos muito recuados, floresceu uma importante indústria de sílex para armas de fogo e isqueiros. Sobre esse tema, publicou, em 1893, em França, o trabalho “La taille du sillex au XIX siècle”.
