

Por João Maurício
Saltitávamos de escola em escola. Havia muita falta de professores. Éramos quase todos provisórios. Uma espécie de carimbo. Despedi-me do interior ribatejano num agosto quente, sem saber qual seria o meu destino a partir de setembro. Fui parar algures ao Oeste num outono fresco. Realidades sociológicas bem diferentes. Ainda apanhei vestígios da escola salazarista que o tempo tornou passadista. Veiga Simão trouxe alguma esperança. Um ciclo que se fechava e outro que estava a chegar.
O pequeno estabelecimento de ensino oestino acabara de ser criado. Era quase minúsculo. Arrancámos do zero, partimos do nada: todos éramos muito novos, sem experiência, cheios de sonhos, raros os que tinham compromissos familiares.
O edifício era emprestado. Não tinha refeitório nem bar. Iniciámos os transportes escolares de forma artesanal. No entanto, havia ali muita alegria. Recordo-me do único corredor cheio de sorrisos, das aulas felizes, e de alunos com vontade de aprender. As salas eram frias e húmidas.
Na secretaria havia, apenas, uma funcionária no início de carreira que recorria com frequência às escolas vizinhas para tirar dúvidas.
Lembro-me dos meus colegas e dos poucos funcionários. Vem-me à memória o Sr. Zé que era polivalente: contínuo, eletricista, carpinteiro, pedreiro, amigo de todos. Alguns já partiram e deito uma lágrima fugidia por eles. Biblioteca nem vê-la, nem sequer o sítio. Lá me deram alguns escudos para comprar dez livros que ficaram numa pequena estante. A sala de professores era um cubículo. O pioneirismo no seu auge. Improvisar era a palavra de ordem.
As aulas de Educação Física aconteciam ao ar livre e, quando chovia, eram suspensas. Nesse ano choveu muito, talvez devido aos ventos marítimos que se faziam sentir. Os alunos eram muito humildes, filhos de operários fabris.
Moldámos as nossas vidas ao ambiente onde estávamos. Contudo, não havia desalento nem tristeza, mas uma doce esperança num futuro melhor. Apesar de tudo, alargámos horizontes. Foram tempos de mudança. Momentos únicos.
O Presidente do Conselho Diretivo foi a alma de toda aquela ambiência. Teve uma vida cheia de encruzilhadas, mas nunca perdeu o rumo. Os que com ele privaram mais de perto, como foi o meu caso, reconheceram-lhe as qualidades, algumas bem raras. Era solidário, sensível, generoso. Muito paciente, firme nos ideais, dedicado, ativo, metódico, conciliador.
Tenho saudades desse tempo em que éramos todos solidários. Estávamos no mesmo barco, à deriva, com um timoneiro que tentava equilibrar.
Tudo passou rapidamente. No ano seguinte, a mesma dança. Voltei para o chamado Interior e, depois, para a Grande Lisboa. Outras experiências, mas aquela escola marcou-me muito, porque era tudo genuíno e espontâneo.
As escolas voltam a abrir e nelas a vida renasce. Novas gerações, novas realidades, novos obstáculos que vão sendo vencidos. Hoje, a realidade é diferente. Afinal, a vida não é estática. Mas o que importa é olhar em frente, não esquecendo o passado. Há estabelecimentos de ensino que são únicos. Sempre que começa um novo ano letivo, recordo aquele que marcou todos os que por lá passaram!
O tempo rola velozmente, mas aquelas memórias colam-se-nos e não mais nos largam. Ainda bem que é assim!















