Por João Maurício
A Feira das Cebolas de Rio Maior tinha caraterísticas próprias até ao início dos anos sessenta do século passado. Infelizmente, não existe entre nós um museu municipal, onde seria possível reproduzir essa realidade que se extinguiu e, consequentemente, já nada diz aos mais novos.
Se, por acaso, formos visitar mentalmente os lugares por onde andou o grande Ruy Belo, vamos encontrar pelo menos uma referência à Feira que, era na voz do povo, um “feirão”, porque era grande e importante. Um local onde oestinos e ribatejanos se encontravam. É que nesses tempos a feira era um verdadeiro hino à vida e à alegria. Fazemos nossas as palavras de Ruy Belo que escreveu: “A minha terra é uma grande estrada”. Pelo menos nesses dias era (acrescentamos nós).
Recordo-me de ter vindo à feira, quando andava na escola primária, há tantos anos que já lhe perdi a conta. Lembro-me das bancas dos navalheiros, onde pequenos agricultores compravam as facas para a matança do porco, lá para o Natal. E os castiços vendedores de gravatas que os homens compravam para estrear nos casamentos que, na altura, duravam três dias.
Vinha gente de todo o lado: de Almeirim, Benfica do Ribatejo, Alcoentre, Vidais, Turquel, Arrimal, Mosteiros, Gaeiras, Pontével, Santa Catarina, Feitosa, Famalicão da Nazaré, até de Leiria, vejam bem! E as camionetas dos Capristanos andavam sempre cheias!
As pessoas das aldeias a oeste da Serra dos Candeeiros marcavam presença.
A feira de gado era importante e aí eram transacionados ovinos, bovinos, caprinos, suínos, gado cavalar e muar, e, também, asinino.
Até aos anos quarenta do século passado, nas aldeias do concelho de Rio Maior, eram poucas as casas que não tinham um burro. A razão tinha a ver com o facto de serem animais pouco exigentes em termos alimentares e muito úteis para os pequenos proprietários rurais.
Recordo-me das barracas dos cesteiros nesta feira. Vinham dos concelhos vizinhos, esses vendedores.
O engenheiro Vieira Natividade, na página 131 da sua obra “A Região de Alcobaça – algumas notas para o estudo da sua agricultura, população e vida rural”, diz-nos que “nas feiras de Rio Maior e Santa Susana faz-se um grande comércio destes artigos, produzidos nas freguesias de Cela e Évora de Alcobaça”.
Lembro-me bem que naquelas barracas, havia ceirões apropriados para o transporte desses produtos sobre burros. Era possível ver, ainda, cestos para a apanha da fruta, outros para as vindimas que se aproximavam. No fundo das barracas estavam cadeirões de bunho, feitos na região de Santarém, misturados com garrafões empalhados.
A cestaria, hoje, tem uma função decorativa e longe vão os tempos em que era usada no quotidiano das pessoas, nos seus trabalhos, tanto nos campos como em casa, para levar o almoço aos trabalhadores, ou para apanhar a fruta do quintal.
Os plásticos foram anulando o trabalho da cestaria. Afinal, tudo tem o seu tempo e hoje já não é possível fazer uma feira à moda antiga: as pessoas são outras, a economia é diferente. Não podia ser de outra maneira. Mas a verdade é que as barracas de cestaria continuam a colorir as novas feiras de artigos artesanais e regionais. E também o nosso imaginário, sempre que a feira volta!